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Mulheres superam preconceitos na enfermagem

Dedicação as destaca no mercado, segundo entrevistadas

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05.03.2020

Sabemos que na atualidade as mulheres dominam a enfermagem, representando 87% dos profissionais desta área, segundo dados do Conselho Federal de Enfermagem (Cofen).

E que esta liderança vem desde sua atuação como “desbravadoras” da profissão, o que pode ser conferido a partir das biografias de personagens históricas, como a britânica Florence Nightingale – a fundadora da enfermagem moderna – e a brasileira Ana Neri, a pioneira no país.

Ambas foram reconhecidas por lidar com a histórica desvalorização da profissão, que está relacionada à opressão de gênero. Na atualidade, esta realidade faz com que as mulheres estejam ainda às voltas com desafios como o acúmulo de jornadas de trabalho e os baixos salários.

Este também é o contexto de Mato Grosso. Segundo o relatório “Enfermagem em Números”, realizado do Cofen, há 29.434 profissionais inscritos no Estado. De acordo com dados do Coren-MT, dos mais de 9 mil enfermeiros registrados, 7.796 são mulheres. Entre os 17.679 técnicos de enfermagem, elas são mais de 15,6 mil e do total de 2.487 auxiliares, representam mais de 2,1 mil.

Um contingente de trabalhadoras reconhece o diferencial da mulher no mercado de trabalho e identifica o preconceito em seu cotidiano.

Atuando há mais de 15 anos em Cuiabá e Várzea Grande, a técnica de enfermagem Simone Cardoso de Lima observa mudanças no cenário local em relação ao início de sua carreira, quando a oferta de emprego era ainda mais escassa. “Hoje, apesar de tudo, vejo que o técnico tem um campo onde atuar e nele a mulher tem uma característica que aumenta a qualidade do seu trabalho: ela dá tudo de si”, disse.

Este “dar tudo de si” também é uma qualidade apontada pela enfermeira Rosimeire Santana dos Santos, de 42 anos, sete deles dedicados à profissão. Ela indica a importância da mulher como sustentáculo econômico da família e fala da contribuição dada por esta à enfermagem. “A mulher agrega sua sabedoria ao ambiente trabalho, e contribui muito para uma assistência adequada. Apesar de vivermos em um ambiente machista, muitos tabus já vêm sendo quebrados”, avalia.

Um destes tabus é a atuação das profissionais lésbicas, que aparece na fala da enfermeira Maiara Laurini, de 27 anos. De orientação homossexual, ela conta que por este motivo já foi rejeitada por pacientes na hora de realizar exames.

Em sua opinião, o diferencial da mulher é justamente colaborar para a humanização da assistência e, neste contexto, o combate ao preconceito deve ser diário. “É importante que as mulheres não esmoreçam nesta luta, pois somos todas iguais”.

A técnica Maria Benedita Pereira de Lima, 53 anos, também concorda que, para além da inserção no mercado de trabalho, o principal desafio da mulher é lidar as pressões. “A mulher tem perfil para o cuidado e muitos pacientes sentem até mais confiança em uma profissional. Mas precisa estar atenta e cuidar de seu emocional para enfrentar este ambiente. Estamos lidando com vidas, com gente que precisa de atenção de carinho”.

Mas a dedicação que destaca a mulher no mercado ao mesmo tempo não é bem vista pela sociedade, que ainda cobra dela os cuidados domésticos. A técnica de enfermagem Dirce Rodrigues de Oliveira, de 54 anos, cita o conflito familiar e social como um dos entraves a serem enfrentados.

“A gente sofreu e sofre preconceito por trabalhar muito, por trabalhar à noite. Agüentamos pressão da sociedade e da própria família, por ainda sermos vistas como parte do lar, não podendo nos afastar dele”, disse. “Minha dica para as mulheres é seguir em frente, correr atrás, afinal esta é a profissão que escolhemos”.

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