Erros de enfermagem acontecem por falta de estudo e de respeito ao paciente

A falta de formação adequada e de consciência sobre a função exercida são as principais causas dos erros de enfermagem, segundo os especialistas consultados pelo R7.

09.02.2011

A falta de formação adequada e de consciência sobre a função exercida são as principais causas dos erros de enfermagem, segundo os especialistas consultados pelo R7.

Fatos recentes mostraram consequências chocantes diante de procedimentos simples, como a retirada de um curativo e aplicação de soro. No primeiro, uma auxiliar de enfermagem cortou parte do dedo de uma criança de quatro anos e, no segundo, outra profissional, do mesmo cargo, provocou a morte de uma adolescente de 12, ao aplicar vaselina na corrente sanguínea.

Para o presidente do Conselho Federal de Enfermagem (COFEN), Manuel Carlos Neri da Silva, situações como essas mostram o despreparo dos profissionais, o que poderia ser sanado se houvesse mais capacitação. Segundo ele, nos últimos dez anos a oferta de cursos de enfermagem aumentou muito, mas nem todos têm a qualidade necessária. Isso se reflete no número de profissionais disponíveis no mercado, na sua maioria técnicos e auxiliares capazes de fazer apenas cuidados básicos de enfermagem.

O número de profissionais que cometem erro é pequeno, mas a questão é como erra. Em cinco anos, houve aumento de 30% de erros desses profissionais no Brasil e os conselhos têm julgado e punido com a perda do direito de atuar na área.

Há hoje no Brasil 1,5 milhão de profissionais na área – são 300 mil enfermeiros e 1,1 milhão de técnicos e auxiliares, em números do COFEN.

“Faltam políticas públicas que disponibilizem cursos de capacitação para esses profissionais. Eles não têm como se atualizar por conta própria, porque já ganham muito pouco”, explica o presidente da autarquia federal.

FOCO NO PACIENTE

Mais do que a falha de atualização, o grande problema é a falta de cuidados essenciais com o paciente, de acordo com o presidente do Conselho Regional de Enfermagem de São Paulo (COREN-SP), Cláudio Alves Porto. Para ele, a “falta de consciência de que o trabalho está ligado à vida e que um ato, por mais banal que seja, pode ser a diferença entre a vida e a morte” explica boa parte dos erros cometidos.

“[As auxiliares de enfermagem] sabiam que poderiam causar danos e tenho certeza que não ignoraram isso. Mas o problema é que a nossa formação está muito ligada ao conhecimento, à tecnologia, mas não se faz a formação moral”, acredita.

Os defensores das auxiliares, em ambos os casos, afirmam que elas foram induzidas a erro pela falta de estrutura dos locais de trabalho. Os especialistas não descartam a hipótese, mas são unânimes em dizer que os erros não se justificam por esse viés.

Porto admite que a sobrecarga de trabalho pode, de fato, comprometer o atendimento. “A sobrecarga de trabalho naturalmente causa estresse, fadiga profissional, e isso se soma ao baixo nível de remuneração, compensado com três, quatro empregos. Mas isso não isenta a culpa”.

Essa dura realidade profissional pode mudar se for aprovado projeto de lei que regulamenta a jornada de trabalho dos profissionais de enfermagem em 30 horas semanais, ante as 40 atuais em instituições públicas e 44 em organizações privadas. O COFEN e a Associação Brasileira da Enfermagem (ABEn) brigam para colocar a PL 2.295/2000 na ordem do dia. O último pedido foi realizado em dezembro último na Câmara dos Deputados.

Se houver a denúncia do erro do profissional, o primeiro passo é a abertura de processo ético pelo Conselho Regional de Enfermagem do Estado onde ele ocorreu. Se comprovado o dano, o profissional é afastado até correr o processo de sindicância, julgado pelos conselheiros. Se comprovada a infração, o profissional pode sofrer desde advertência privada ou pública até a cassação do registro profissional.

Todo esse trâmite é de conhecimento dos profissionais, o que, segundo o presidente do COFEN, pode inibir as más práticas.

CUIDADOS COM AS CRIANÇAS

O fato dos dois erros citados terem ocorrido com crianças não é mera coincidência, segundo o presidente do COREN-SP. Diferente dos adultos, crianças, em especial as muito pequenas, não reagem a determinados estímulos e nem questionam as atitudes do profissional. O próprio organismo do adulto tem condições de receber cargas mais elevadas de medicamentos.

“Ao lidar com crianças, o profissional tem que saber que as consequências são muito maiores. Se você injetasse 50 ml de vaselina em um adulto sadio, provavelmente ele teria problemas, mas não morreria, porque o organismo consegue fazer frente por causa da quantidade de sangue.

 

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